15 de fevereiro de 2017

Instabilidade é a maior desde a Segunda Guerra, afirma Conferência de Munique

Ordem liberal internacional está sendo atacada nos seus fundamentos, e mundo pode estar à beira de uma era pós-ocidental, afirma relatório lançado às vésperas do evento sobre segurança.
O organizador da Conferência de Segurança de Munique, Wolfgang Ischinger, afirmou nesta segunda-feira (13/02) que a situação mundial atual é a de maior instabilidade desde a Segunda Guerra Mundial.
No relatório Post-Truth, Post-West, Post-Order? (Pós-verdade, pós-Ocidente, pós-ordem?), Ischinger acentuou as ameaças à ordem internacional, desde um vácuo de poder causado pela possível saída dos Estados Unidos da cena mundial até a elevação dos riscos de uma escalada militar.
"O ambiente de segurança internacional é indiscutivelmente mais volátil hoje do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Alguns dos pilares mais fundamentais do Ocidente e da ordem liberal internacional estão se enfraquecendo", afirmou Ischinger, definindo o momento atual como iliberal.
Ele afirmou, ainda, que "podemos, então, estar à beira de uma era pós-ocidental, na qual atores não ocidentais estão moldando as relações internacionais, muitas vezes em paralelo ou mesmo em detrimento precisamente dessas instâncias multilaterais que formaram a base da ordem liberal internacional desde 1945". "Estamos entrando num mundo pós-ordem?", questiona Ischinger.
O relatório, lançado às vésperas da Conferência de Segurança de Munique, que ocorre no próximo fim de semana, destaca ainda que a ascendência da retórica populista mudou fundamentalmente o discurso da democracia liberal e os princípios que a acompanham.

Trump: reequilíbrio significativo da ordem global
Se o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) foi o catalisador de uma revisão das relações internacionais, a eleição do republicano Donald Trump marcou seu avanço definitivo.
Em seu discurso de posse, Trump professou uma mudança histórica nas relações dos EUA com outros países, prometendo que suas políticas – tanto domésticas quanto internacionais – vão priorizar os interesses americanos. "A partir desse momento será os Estados Unidos em primeiro lugar", afirmou.
Como lembra o relatório, Trump não mencionou os conceitos democracia, liberdade e direitos humanos em seu discurso de posse, em nítido contraste com seus antecessores. "Isso não é um bom presságio para os valores liberais em todo o mundo", afirma o relatório.
Desde então, a administração de Trump tem promovido um reequilíbrio significativo da ordem global por meio de uma miríade de manobras políticas, incluindo ignorar tradições diplomáticas de longa data, fazer críticas fortes a aliados tradicionais dos EUA e proibir a entrada no país de cidadãos de sete nações de maioria muçulmana.

"Nada é verdade e tudo é possível"
Apesar de terem avançado na Europa Ocidental depois da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia, as "notícias falsas" alcançaram seu pico durante a campanha eleitoral que deu a vitória à Trump, em novembro.
A desinformação e sua capacidade de influenciar as estruturas políticas e minar as narrativas dos meios de comunicação tradicionais provaram ser um fenômeno pós-verdade de um ambiente político criado por uma base interconectada de eleitores. Essa situação tem claras repercussões sobre a segurança. "A principal ameaça é que a confiança dos cidadãos na mídia e nos políticos pode continuar se deteriorando, criando um círculo vicioso que ameaça a democracia liberal", diz o relatório.
"É verdade que eles [os Estados] não podem proibir as 'notícias falsas' ou introduzir 'agências da verdade' sob o preço de se tornarem eles mesmos iliberais. Impedir que haja um mundo 'pós-verdade', no qual 'nada é verdadeiro e tudo é possível', é uma tarefa para a sociedade como um todo", acrescenta o documento.

Síria: sem fim à vista
Desde o início do conflito na Síria, em 2011, mais de 300 mil pessoas foram mortas e metade da população do país foi deslocada, de acordo com dados da ONU.
Apesar das numerosas tentativas de garantir um cessar-fogo e impedir o aumento das hostilidades, o governo sírio iniciou em 2016 uma campanha brutal, apoiada pela Rússia, para recuperar a cidade de Aleppo. Como resultado, milhares de pessoas morreram.
"Os principais atores ocidentais ficaram de braços cruzados quando Aleppo caiu, observando o que um porta-voz da ONU descreveu como um 'colapso total da humanidade'", afirma o relatório.
O que começou com protestos pedindo a saída do presidente Bashar al-Assad se transformou num longo conflito, envolvendo atores domésticos, grupos militantes, países vizinhos e potências mundiais, como Estados Unidos, Rússia, Irã e Arábia Saudita.
"Como numerosos atores estão interferindo em crises na Síria e região, enquanto o Ocidente tenta de alguma forma superar o problema, a era pós-Ocidental do Oriente Médio pode já ter começado", diz o relatório.

O futuro do terrorismo
No ano passado, problemas de segurança criados pelo conflito sírio se espalharam pela região e pelo mundo, principalmente com a proliferação de ataques terroristas inspirados no "Estado Islâmico" em nações ocidentais.
Do estado de emergência na França até operações policiais na Alemanha, a resposta a atentados como os de Berlim, Nice e Bruxelas foi desigual nos países da União Europeia, já que os Estados-membros desenvolveram formas próprias de melhorar as medidas de segurança.
De acordo com o relatório, é necessário que a União Europeia aja como um bloco diante dos desafios apresentados pela ameaça de radicalização e terrorismo. "Apenas com um reforço maior da cooperação e competências antiterroristas da União Europeia, os Estados europeus serão capazes de enfrentar o que provavelmente será um desafio jihadista de longo prazo", afirma o relatório.
defesanet/montedo.com

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