3 de fevereiro de 2017

Para onde vai a aviação militar?



Esta é a grande pergunta que planejadores militares, engenheiros aeronáuticos e, principalmente, controladores de orçamento de defesa fazem entre si hoje em dia. Para tentar respondê-la, iniciamos hoje uma série de artigos que discorrerá sobre suas origens, descreverá seu presente e tentará dar um vislumbre do que pode vir a ser o seu futuro. O tema de hoje é a evolução das armas lançadas de aeronaves para destruição de alvos de superfície. Acompanhe!

CENÁRIO 1
No verão de 1943, as Forças Aéreas aliadas na Europa Ocidental lançaram um massivo ataque aéreo diurno contra a cidade alemã de Schweinfurt-Regensburg, as quais abrigavam fábricas de aviões alemães. Perderam 60 enormes bombardeiros B-17. Voltaram à carga no outono daquele ano e perderam mais 77 aviões. Em ambos os casos, os resultados alcançados foram pífios, pois as fábricas alemãs continuaram a produzir.

CENÁRIO 2
Passadas duas décadas, a USAF (United States Air Force – Força Aérea dos Estados Unidos) se depararia novamente com o mesmo problema, desta vez em céus norte vietnamitas.
Corria o ano de 1965. A ponte de Thanh Hoa, no rio Song Ma (apelidada “Mandíbula de Dragão”), no Vietnã do Norte, era vital para reabastecimento das tropas Vietcongs (a guerrilha comunista que operava no sul do país). Desta forma, era imprescindível que as Forças Armadas Americanas a destruíssem.
No primeiro ataque, em abril daquele ano, lançaram-se 1.200 bombas e 32 mísseis (nesta época, um único bombardeiro a jato já carregava quase a mesma tonelagem de bombas que todo um esquadrão da Segunda Guerra). E a ponte continuou intacta.
Persistindo a necessidade, os americanos continuaram a atacar a ponte até 1972, quando finalmente conseguiram destruí-la com bombas guiadas por TV. Ao custo de 11 aeronaves abatidas.

CENÁRIO 3

Na Guerra do Golfo (1991), em que os Estados Unidos, capitaneando uma coalizão de 28 países, expulsou as tropas do ditador iraquiano Saddam Hussein do Kuwait, assistiu-se, pela televisão, a cenas impressionantes de mísseis praticamente entrando pela janela de um prédio. As novas armas introduzidas no arsenal americano eram extremamente precisas (minimizando desta forma os danos colaterais a civis), e podiam ser lançadas de uma posição bem distante do alvo, evitando a exposição da aeronave que a lançava ao fogo inimigo.
Em acréscimo, foram projetadas aeronaves que tinham a função de embaralhar os radares inimigos. Desta forma, as armas antiaéreas de Saddam atiravam às cegas, diminuindo sua eficiência.

O que se depreende disto ?

Na Segunda Guerra eram necessárias centenas de aeronaves para destruir um alvo. No Vietnã, a mesma missão era conduzido por uma dezena. Depois do Golfo, uma única aeronave consegue fazer o mesmo trabalho.
Na guerra contra os nazistas, centenas de milhares de aviadores americanos e britânicos amargaram longo cativeiro na Alemanha ao serem derrubados sobre aquele país e feitos prisioneiros. No Vietnã a cifra caiu para algumas centenas. Na Guerra do Golfo não chegou a dez, e na data de hoje (2017), já faz mais de 20 anos que um piloto norte americano não aparece capturado no noticiário da CNN ou da Al Jazeera, embora, desde então, tenham bombardeado Kosovo, o Iraque novamente, o Afeganistão e a Líbia.
Os militares americanos, ao longo de 70 anos, aprenderam com seus erros. Numa análise comparativa, pode-se dizer que eles realizaram um verdadeiro trabalho de reengenharia, de vez que:
Estabeleceram metas (destruir alvos com precisão a um custo mínimo de homens, máquinas e efeito político negativo);
No intervalo entre guerras, repensaram os processos utilizados na campanha anterior, visando aperfeiçoar o que não funcionou a contento;
Desenvolveram novas maneiras de conduzir estas operações e
Aplicaram novos métodos, baseados em táticas, armas e treinamentos aperfeiçoados.
A soma destas atitudes se traduziu em mais EFICIÊNCIA, pois a cada nova guerra os alvos eram atingidos com menos bombas desperdiçadas, menor era o número de aeronaves derrubadas (e, de pilotos mortos ou feitos prisioneiros), ao mesmo tempo que se diminuíam as baixas civis inimigas.
A parte os novos métodos, o “increase” desta eficiência se deve, também, ao advento dos VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados – objeto de artigos futuros) e ao uso de armamentos ditos inteligentes.

BOMBAS INTELIGENTES
As bombas ditas “inteligentes” nada mais são que bombas convencionais dotadas de um “kit“ de guiagem que as direciona para o alvo. A diferença entre uma bomba guiada e um míssil é que a primeira não possui propulsão (motor, foguete ou outro), valendo-se apenas da força da gravidade e da velocidade inicial que recebe por ocasião de sua queda da aeronave lançadora. Ademais, seu custo é muito mais barato do que o de um míssil ar-superfície.
O “kit” que as diferencia das bombas convencionais em geral é composto dos seguintes itens :
ALFA – sensor eletrônico (para captar as imagens do alvo, receber sinais laser ou, ainda, obter dados de satélite);
BRAVO – um sistema de controle integrado (um microchip com alta capacidade de processamento);
CHARLIE – empenagens de voo para guiagem em direção e atitude, também, utilizadas para estabilização; e
DELTA – uma fonte de energia (em geral, bateria).

Tipos de orientação dos armamentos inteligentes
1) LASER – o sensor existente na bomba capta o reflexo no alvo de uma emissão laser que pode tanto vir do solo (estando o alvo iluminado por tropas de operações especiais ou outras) como de outras aeronaves.
2) DISPOSITIVOS ELETRO-ÓPTICOS – uma câmera de vídeo transmite imagem do alvo para o piloto para que o mesmo faça as correções necessárias a a guiagem da bomba.
3) SATÉLITE – o sensor guia-se pela posição GPS do alvo. Este sistema é altamente preciso se a guiagem for incrementada por um sistema inercial.
Ao contrário dos sistemas LASER e Eletro-óptico, a conjugação GPS/Inercial não está sujeita à degradação da precisão em virtude de condições meteorológicas adversas.
Funcionamento dos armamentos inteligentes
Basicamente, um ataque a alvo com aeronave que disponha de bombas inteligentes se processa da seguinte forma: a aeronave posiciona-se geralmente a uma distância segura do alvo, de maneira que não possa ser alcançada pelos dispositivos anti-aéreos do mesmo (stand off), e o piloto controla a mesma de maneira a se manter no envelope de emprego do armamento (altitude mínima de lançamento, velocidades adequadas, atitude da aeronave , quantidade de G a ser puxada etc).
Uma vez que a bomba se solta do avião, começa a receber informações dos sensores que delineiam a posição do alvo. Estas informações são transformadas em comandos para as suas aletas, as quais curvam o dispositivo na direção a atingir. Desta forma, ela vem planando em direção ao objetivo e recebe as correções automaticamente. O grau de precisão se mede em poucas dezenas de metros. (Continua…)

Você também gostará de :
Assista um curto vídeo do lançamento de bomba inteligente GBU-24 pela Força Aérea da Coréia do Sul (com som ligado):
Robinson Farinazzo/montedo.com

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